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O Tempo Não Para


Foto -Daniel Mota


Em 1996 concluía mais uma fase de minha história de vida, passei quatro longos anos como estudante de Filosofia na UFPR, foi um tempo que não saí de minha memória e não tem como esquecer.


E toda vez que vou para Curitiba e quando tenho tempo, passo na cantina da universidade peço um misto quente com pingado no copo americano, esse lanche tem um sabor especial, sabor de luta, vitória e companheirismo. Ah! Também não tem como deixar de tomar o saboroso limãozinho do falecido português, ou seja, aquela vodka com limão, açúcar e gelo, uns dizem que era caipirinha, mas para o português era “o limãozinho”.


Bons tempos, pois havia uma áurea de rebeldia, de intelectualidade, revolta social e idealismo da juventude. Na Universidade Federal do Paraná, conheci muitas pessoas, de vários credos, cores e tipos, e deste tempo trago no meu peito bons amigos, companheiros e irmãos. Um tempo que marcou minha existência.


Passageiros de nossa nau, esse tempo veio em minha mente como um flash back, um tempo que bateu uma saudade que me fez refletir. Refletir que temos que lutar por nossas ideias, por nossos valores, por nosso amor e por nossas crenças.


Acreditamos que um homem que não sonha, perdeu o sentido da vida, a esperança de viver e lutar, acreditamos também piamente, que somos movidos por nossos sonhos e desejos.


Expresso tudo isso, porque hoje tirei algumas fotos do desfile de 7 de setembro de 2016, foi um dia interessante, um verdadeiro “déjà vu” de um tempo movido pelos idealistas, pelos apaixonados, amantes da liberdade, por poetas e sonhadores.


No dia de hoje, tive um amigo preso por colar cartazes “Fora Temer”, capturei com minhas lentes o frescor da juventude lutando por seus ideais, encontrei-me com companheiros que foram massacrados no dia 29 de Abril de 2015, presenciei jovens segurando a bandeira da UNE e da UBES, escutei os milicos aumentarem o som no palanque das autoridades para impedir que a população ouvissem o som da democracia gritado “Fora Temer”, registrei em imagem o asfalto marcado com o desejo social de uma democracia na plenitude da palavra, presenciei nossos ancestrais Kaingangs protestando por dignidade. Foi um dia mágico na essência do termo, e para minha alegria também ví jovens apaixonados pela liberdade, sem medo, sem pudor, com a cara e a coragem, com paixão gritando palavras de ordem, por nossa democracia, por dignidade e respeito.


Pude sentir e ver a alegria destes jovens em seus rostos com um ar de esperança. Foi uma experiência que fazia muito tempo que não presenciava, não sentia e não vivia.


Experiência essa que aqueles jovens amantes da liberdade, fez-me lembrar do mais corajoso, do mais idealista, daquele que deu sua vida por seus sonhos, para que todos nós, hoje pudessem gritar, dança e protestar no meio da avenida em pleno desfile de 7 de setembro contra qualquer governo tirano e ilegítimo, o nosso maior ativista “Antônio Três Reis de Oliveira”, filho do Seu Ageu e da Dona Glaucia de Oliveira, que estudou no Colégio Nilo Cairo, que atendia pelo pseudônimo de “Preguinho”, no qual foi um ilustre aluno da Faculdade de Apucarana no curso de Ciências Econômicas, e foi assassinado covardemente na ditadura militar em 17/05/1970.


Obrigado, Ativistas, Professores Massacrados no dia 29 de abril e Meus Alunos pelo dia de hoje, mais muito obrigado a você “Preguinho” pela lição de coragem e amor pela democracia, obrigado pelo sacrifício que fez com sua vida e pelo fio de esperança que deixou para nossa cidade. Que hoje jovens ativistas estão lhe seguindo em vida!

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Concluo este post com o vídeo do Detonautas Roque Clube, na sua bela interpretação da música "O Tempo Não Para" do Cazuza.


O Tempo Não Para


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