Os Apukás e os Mágicos do fogo
Hoje é dia 25 de dezembro, no calendário dos Apukás, é uma data muito especial também, mas é um dia, onde um grupo de pessoas fazem um ritual muito peculiar, fazem o “ ritual do fogo”, um ritual para celebrar e comemorar literalmente o nascimento, a vida e a esperança.
A comunidade dos Apukás, tem uma relação muito próxima com um tipo de profissional que tem a habilidade de queimar carne e dominar o fogo, esses sujeitos são chamados de “Mágicos do Fogo”. Dizem que foram condenados a viver isolados em suas comunidades, bebem muito um líquido produzido em um santuário reservados, comem carne e estão condenados a ficar horas e horas em frente de um altar geralmente de forma retangular, no fundo de suas casas queimando pedaços de madeiras queimadas, e após essa madeira virar um brasa eles fazem a oferenda ao deus “Phome” queimando pedaços de aves, carneiros ou carnes de vaca e os mais criativos queimam verduras, frutas e legumes.
Essas oferendas são em seguida doadas para os suplicantes que ficam implorando na frente do pequeno santuário.
É uma coisa incrível e é um pouco assustado ver esse ritual!
Tudo começa quando o “Mágico do Fogo”, coloca uma vestimenta especial, um pedaço pano com uma pequena fita amarrada, que vai do pescoço ao abdomen.
Em seguida, ele começa um ritual de purificação do ambiente, passa um pano com água em todo o santuário, lava-o bem, tudo isso embalado ao som de instrumentos um instrumento musical aerofone, composto por um fole, palhetas livres e duas caixas harmónicas de madeira.
Esse som que vem deste instrumento, muitas vezes fazem as pessoas se movimentarem executando quatro movimentos básicos: dois passos para a esquerda e dois para direita isso pode acontecer antes ou depois de consumirem as oferendas.
Neste clima, após a limpeza o “Mágico do Fogo” começa a afiar os instrumentos que serão utilizados no ritual. Na verdade, tais instrumentos são assustadores e são compostos por espetos de vários tamanhos, facas de diversos tipos e especificidades.
O mais assustador neste ritual, foi uma peça que combina elementos juntos e então eles são de espaços repetitivos de metal resistente ao fogo.
Os elementos desta peça estão numa direção, mas em alguns casos pode ser bidirecional e têm elementos perpendiculares à orientação principal para uma malha.
Os espaços deste instrumento podem ser utilizados para permitir a passagem de água ou fogo ou algum outro elemento, evitando que outros itens de maior dimensão possam passar através deles. Essas partes são coladas com fogo, cujos elementos metálicos têm sido ligados através de uma cola mágica, formando uma estrutura de corpo único com estrutura de malha resultante da união de todas as suas partes.
Para ficar mais fácil a compreensão, este instrumento de metal que consiste em várias tiras de mesma faixa colocados lateralmente e paralelos e espaçados, que levam colas de fogo perpendicularmente, em todos os cruzamentos ou interseções, nas hastes de maior diâmetro a sua espessura. Tem a função de unir e manter a distância entre as barras de suporte, esse instrumento de grande resistência e leveza e é comum encontrar em diversas casas de aprendizes de “Mágicos do Fogo”
Essa peça é somente utilizada nos templos e nos santuários em suas casas, alguns Apukás se atrevem fazer esse ritual em parques ou na beira de rios.
Segundo Oãoj, os “Mágicos do Fogo” são antropozoomórficos e politeístas, bebem até cair, organizam festas, nas quais adoram celebrar com comida e fazem uma oferenda em um tacho com carne suína que é uma especialidade deste mágicos, outro ritual que os nativos apreciam muito é visualizar carnes espetadas, especificamente costelas ao centro de uma área, e em volta colocam fogo por horas onde os nativos ficam a salivar, esperando trocar dadivas com os “Mágicos do Fogo” por um pedaço.
É um ritual muito cansativo, pois a costela pode durar horas até que o espirito do fogo faça sua parte, os “Mágicos do Fogo” mais respeitados são o que adoram ferrar uma mula, antes de fazerem seus rituais, eles habitam o principal templo dos “Mágicos do Fogo” e se reúnem no quarto dia de semana, ao pôr do Sol. Ah! Mulheres são bem-vindas mas não aparecem, e esse é um mistério que Oãoj não soube explicar.
Outra curiosidade sobre os “Mágicos do Fogo” no templo principal é que durante esse ritual, após trocarem dádivas por pedaços de costelas, essas dádivas são doadas para nativos com extrema necessidade de oferendas.É um gesto nobre aos olhos do Apukás.
No templo do fogo eles escrevem em uma folha, um valor que expressa a quantidade de dadivas doadas aos nativos necessitados, um guerreiro ou um “Mágico do Fogo” sobe em uma cadeira ou mesa e todos ficam em silêncio quase divino. E é neste momento que há o anuncio das dadivas arrecadadas e todos por um instante batem com um pequeno espeto ou uma pequena faca em seus copos reluzentes transparentes, tudo isso para comemorar o anuncio da quantidade dadivas que vão compartilhar os Apukás mais necessitados.
Esse momento no templo dos “Mágicos do Fogo” tem um caráter divino, pois representa a nobreza dos guerreiros Apukás com os mais necessitados, com os mais frágeis de sua estrutura social.
Os Apukás sempre vão te surpreender pois são nobres e especiais.
Texto inspirado na obra de Horace Miner In: A.K. Rooney e P.L. de Vore (orgs) You and the others: Readings in Introductory Anthropology (Cambridge, Erlich) 1976, “Ritos corporais entre os Nacirema”.