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Os Sagrados Sacerdotes da Boca.


Na cultura dos Apukás, há também os “Sacerdotes da Boca”, que cuidam dos problemas vinculados à cavidade bucal, nesta cultura ás mulheres também tem seu papel fundamental, digo isso pois também existem as “Sagradas Mulheres da Boca”, pois são dotadas de beleza divina, de um bondade angelical e uma crueldade horripilante, são mulheres guerreiras, que não tem medo. Neste período com os Apukás fui agraciado pelo amor de uma desta mulheres uma experiência única que o tempo e o espaço não separa, alertamos que até hoje estamos juntos compartilhando nossos sonhos e desejos.


Os Apukás em suas peculiaridades eles têm um horror quase que patológico, e ao mesmo tempo fascinação, pela cavidade bucal, cujo estado acreditam ter influência sobrenatural em todas as relações sociais.


Os Apukás acreditam que, não fosse pelos rituais bucais, seus dentes cairiam, suas gengivas sangrariam, suas mandíbulas se contrairiam e o pior de todos os dramas uma dor insuportável na cavidade bucal.


Os Apukás acreditam na existência de uma forte relação entre as características orais e as morais orientados pelos “Sagrados Homens da Boca”.


Recentemente fui testemunha de um rito que me assombrou por inteiro. Após o termino de uma refeição coletiva é por um breve instante, observei que após as refeições todos, em uma seqüência quase sagrada, mas hierárquica, se dirigiam para o santuário-doméstico, que o “Silvícolas Mor” mandou construir para este ritual.


Primeiramente o “Silvícolas Mor” pegou um pequeno pacote, colocou debaixo do braço como quem gostaria de esconder, se dirigiu lentamente para o santuário, entrou, fechou a porta, e começou a fazer seu ritual de adoração.


Neste breve espaço de tempo, fiquei à espreita junto a porta do santuário doméstico para verificar o que se passava lá dentro, de onde saíam alguns barulhos estranhos. Por fim o “Silvícolas Mor” se retirou com uma cara de felicidade.


Sendo assim cheguei a uma conclusão: que existe o ritual corporal executado diariamente por cada Apuká no qual· se inclui o rito bucal com gemidos, barulhos em uma linguagem estranha que só que faz pode entender.


Apesar de serem tão escrupulosos no cuidado bucal, este rito envolve uma prática que choca qualquer estrangeiro não iniciado, e tal rito considero revoltante. Foi-me relatado que tal rito consiste na inserção de um pequeno feixe de cerdas de porco na boca, juntamente com certas gosmas mágicas, em movimento, em uma seqüência de gestos altamente formalizados para purificar a cavidade bucal.


Além do ritual bucal privado, as pessoas procuram o “Sacerdote da Boca” uma ou duas vezes ao ano. Estes sacerdotes vêm com impressionante coleção de instrumentos; fiquei estupefato. Em relação ao tamanho requinte de crueldade que choca qualquer estrangeiro, os instrumentos básicos consistido de brocas, furadores, espécie de sondas e aguilhões, alguns líquidos mágicos; e ainda se utilizam de uma máscara no rosto e uma espécie de placa de cristal e usam uma vestimenta branca para se parecer com deuses e para não serem identificados.


O uso destes objetos no exorcismo bucal envolve, para o nativo, uma tortura ritual quase inacreditável e todos os nativos são obrigado a participar.


O ritual tem a seguinte característica: “Sacerdote da Boca” abre a cavidade bucal dos silvícolas e, usando os instrumentos acima citados, alarga todas as cavidades que a degeneração possa produzir nos dentes. Nestas cavidades são colocadas substâncias mágicas, na maioria das vezes de cor escura no qual eles chamam de “amálgama”, uma espécie de metal que só os sacerdotes da boca tem a habilidade de manipular. Caso não existam cavidades naturais nos dentes, grandes seções de um ou mais dentes são extirpadas para que a substância sobrenatural possa ser aplicada. Se o nativo não tem mais nenhum dente, são feitas oferendas a um deus e no prazo de 8 luas, após as oferendas e dadivas são confeccionados novos dentes. Do ponto de vista do nativo, o propósito destas aplicações é tolher a degeneração e atrair amigos.


O caráter extremamente sagrado e tradicional do rito evidencia-se pelo fato de os nativos voltarem aos sacerdotes da boca após ano, não obstante o fato de seus dentes continuarem a degenerar.


As cerimônias diárias, como os ritos dos “Sacerdotes da Boca”, envolvem desconforto e tortura. Com grande precisão ritual, as vestais despertam seus miseráveis fardos a cada madrugada e os rolam em seus leitos de dor enquanto não executam abluções, com os movimentos formais nos quais as virgens altamente treinadas orientam os nativos. E em virtude ausência da prática do ritual, em outras horas, elas inserem bastões mágicos na boca do suplicante ou forçam substâncias que se supõe serem curativos até que a dor sumam por completo.


Texto inspirado na obra de Horace Miner In: A.K. Rooney e P.L. de Vore (orgs) You and the others: Readings in Introductory Anthropology (Cambridge, Erlich) 1976, “Ritos corporais entre os Nacirema”.

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