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Manifesto Escola Cidadã – Movimento Educação Democrática


O Coletivo Escola Cidadã - Movimento Educação Democrática entende que a relação entre o ensino e a aprendizagem na escola não é uma relação apenas técnico-vertical; ela envolve subjetividades que dialogam por meio da proposição de experiências de aprendizagem.


A ação docente no sistema público educacional brasileiro, pautada nos princípios democráticos, não deve ocorrer apenas de cima para baixo de modo impositivo e ditatorial e o aluno não deve ser entendido como sujeito passivo. A máxima de Paulo Freire “aquele que ensina, aprende e aquele que aprende, ensina” é deveras verdadeira.

O olhar de nosso coletivo para a ação docente considera o aluno sujeito de sua aprendizagem e “sujeito de si”, ele é co-participante da ação de aprender-ensinar, ele é parte essencial da transformação por meio da experiência educativa. Experiência aqui entendida como “aquilo que nos passa, que nos toca ou que nos acontece, e ao nos passar, nos forma e nos transforma” (LARROSA, 2002).

O Coletivo Escola Cidadã - Movimento Educação Democrática entende a experiência educativa como ação dialógica carregada de significações e acompanhada de uma mudança operada de forma consciente nos sujeitos da aprendizagem.

Esvaziar e simplificar a complexa ação educativa a partir de interpretações que segmentam esta ação somente na “liberdade de aprender”, desvinculada da liberdade de ensinar, é colocar em xeque o caráter formador e transformador da educação. Isso simplifica e condena a ação educativa a se “contentar com um mínimo de sentido e a deixar de notar quão restrita é nossa percepção das relações que dão às coisas às suas verdadeiras significações”. (DEWEY, 1959). Concordamos com a ideia de que todas as pessoas são “seres histórico-sociais, capazes de comparar, de valorar, de intervir, de escolher, de decidir e de romper.” (FREIRE, 1996) E, por isso mesmo, nos constituímos seres éticos. Todas essas ações são motivadas por valores que os sujeitos carregam consigo. É necessário compreender que valores são crenças que orientam a maneira de pensar e de agir dos sujeitos.


Compreendemos o ambiente escolar como o espaço por excelência, em que se encontram os diferentes sujeitos carregando consigo diferentes valores que, necessariamente, precisam aprender a conviver harmoniosa e respeitosamente. Nesse sentido, a função da ação educativa não é ser mera reprodutora dos valores familiares, mas sim, a mediadora da reflexão ética sobre esses valores, pautada no respeito mútuo, no diálogo, na observação das regras de convivência, na liberdade de expressão, na prevalência de interesses sociais e não apenas individuais. Eis a boniteza da Educação: a troca, a interação, o aprendizado com aquilo que difere de mim.

Partimos do entendimento que a Escola Cidadã busca educar o olhar para a beleza da diversidade por meio da reflexão sobre como nos portamos frente a ela! E quanta diversidade há nesse nosso mundo! E quão bela deve ser a nossa atitude frente à diversidade. Isso porque a Escola Cidadã entende que a estética enquanto dimensão humana abrange a vida social. Desde o ato de saudar um vizinho na rua, de ceder o lugar no ônibus a uma gestante ou idoso há todo um pensamento estético em ação e uma ação que se relaciona com o outro, com a alteridade.

A Escola Cidadã pensa a ação educativa em prol do colocar-se no lugar do outro, do permitir-se compreender e sentir a partir da perspectiva do outro. Esse movimento amplia os horizontes da própria identidade, pois permite ao indivíduo o exercício da relação constante com essa alteridade. Na Escola Cidadã há espaço para todos os sagrados e para o não-credo, para todas as identidades de gênero, para todas as etnias. A Escola Cidadã não distingue e segrega sujeitos: mas os integra, os acolhe e os faz refletir sobre si mesmos, suas diferenças, construindo diálogos com equidade. Para além disso, ao acolher, empodera e harmoniza relações!

A ação educativa no âmbito da Escola Cidadã forma os sujeitos para conviverem e respeitarem as diferenças. Uma educação pensada a partir dos princípios democráticos educa para a Autonomia individual, ampliando a cooperação para uma melhor relação entre os diversos segmentos sociais e busca ensinar o que é ser cidadão a partir das ações mais elementares: nas deliberações sobre combinados e sobre cumprimento de regras de convivência, na reflexão sobre limites, liberdades, deveres e direitos, nas proposições de ações em que o individual dê lugar ao coletivo.


A Escola Cidadã entende que o crescimento individual está intimamente ligado ao desenvolvimento do grupo, da comunidade, da sociedade. Neste processo, não há espaço para a meritocracia, prática que, amiúde, destrói esperanças e sonhos e amplia as desigualdades e a competição que já inicia desigual.

Acreditamos que uma Escola Cidadã se faz quando abordamos criticamente as relações de desigualdade, sejam elas de classe social, gênero, sexualidade, dentre outras diferenças que necessitam ser compreendidas e aceitas como cerne das relações sociais no espaço da escola e na sociedade em geral. Uma escola Cidadã se faz quando questionamos a violência doméstica, quando questionamos a desigualdade de renda, a desigualdade de acesso a bens materiais e culturais por parte significativa da população brasileira.


Uma Escola Cidadã se faz quando toma consciência de que ela é um microcosmo da sociedade e, como tal, repleta de diversidade, sendo assim, tem a obrigação de produzir um ensino crítico, plural, democrático e humano, respeitando e ensinando a se respeitar as diferenças.

Pensar a Educação nesses termos é reafirmar o ideal de formação humana integral considerando a criança, o adolescente, o jovem e o adulto como entes completos, concretos, ativos e transformadores.


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Fonte:

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