top of page

Entrevista João Cândido, o Almirante Negro da Revolta da Chibata de 1910

A entrevista é de grande valor histórico e temos a obrigação histórica de compartilhar em nossa nau. João Cândido brasileiro, marinheiro e líder da Revolta da Chibata, movimento que se opôs a segregação racial na marinha do Brasil.

A entrevista é uma raro material produzido pelo Museu da Imagem e do Som em meados de 1968, aproximadamente um ano antes de sua morte do Almirante Negro. "A entrevista de João Cândido foi concedida ao Museu da Imagem e do Som, no Rio De Janeiro.As perguntas são do historiador Helio Silva e de Ricardo Cravo Albin , então diretor executivo do MIS. Também Adalberto Cândido, filho caçula de João Cândido esteve presente na realização do depoimento. Escute agora o trecho de 30 minutos desta entrevista ao qual o programa Nação teve acesso".


A Revolta da Chibata foi um importante movimento social ocorrido, no início do século XX, na cidade do Rio de Janeiro. Começou no dia 22 de novembro de 1910.


Neste período, os marinheiros brasileiros eram punidos com castigos físicos. As faltas graves eram punidas com 25 chibatadas (chicotadas). Esta situação gerou uma intensa revolta entre os marinheiros.


Causas da Revolta


O estopim da revolta ocorreu quando o marinheiro Marcelino Rodrigues foi castigado com 250 chibatadas, por ter ferido um colega da Marinha, dentro do encouraçado Minas Gerais. O navio de guerra estava indo para o Rio de Janeiro e a punição, que ocorreu na presença dos outros marinheiros, desencadeou a revolta.


O motim se agravou e os revoltosos chegaram a matar o comandante do navio e mais três oficiais. Já na Baia da Guanabara, os revoltosos conseguiram o apoio dos marinheiros do encouraçado São Paulo. O clima ficou tenso e perigoso.


Reivindicações


O líder da revolta, João Cândido (conhecido como o Almirante Negro), redigiu a carta reivindicando o fim dos castigos físicos, melhorias na alimentação e anistia para todos que participaram da revolta. Caso não fossem cumpridas as reivindicações, os revoltosos ameaçavam bombardear a cidade do Rio de Janeiro (então capital do Brasil).


Carta dos Marinheiros ao Presidente Hermes da Fonseca


A carta redigida durante a Revolta da Chibata liderada por João Cândido Felisberto e com redação de Francisco Dias Martins.



"Ilmo. e Exmo. Sr. presidente da República Brasileira,


Cumpre-nos, comunicar a V.Excia. como Chefe da Nação Brasileira:


Nós, marinheiros, cidadãos brasileiros e republicanos, não podendo mais suportar a escravidão na Marinha Brasileira, a falta de proteção que a Pátria nos dá; e até então não nos chegou; rompemos o negro véu, que nos cobria aos olhos do patriótico e enganado povo.


Achando-se todos os navios em nosso poder, tendo a seu bordo prisioneiros todos os Oficiais, os quais, tem sido os causadores da Marinha Brasileira não ser grandiosa, porque durante vinte anos de República ainda não foi bastante para tratarnos como cidadãos fardados em defesa da Pátria, mandamos esta honrada mensagem para que V. Excia. faça os Marinheiros Brasileiros possuirmos os direitos sagrados que as leis da República nos facilita, acabando com a desordem e nos dando outros gozos que venham engrandecer a Marinha Brasileira; bem assim como: retirar os oficiais incompetentes e indignos de servir a Nação Brasileira.


Reformar o Código Imoral e Vergonhoso que nos rege, a fim de que desapareça a chibata, o bolo, e outros castigos semelhantes; aumentar o soldo pelos últimos planos do ilustre Senador José Carlos de Carvalho, educar os marinheiros que não tem competência para vestir a orgulhosa farda, mandar por em vigor a tabela de serviço diário, que a acompanha.


Tem V.Excia. o prazo de 12 horas, para mandar-nos a resposta satisfatória, sob pena de ver a Pátria aniquilada.


Bordo do Encouraçado São Paulo, em 22 de novembro de 1910.


Nota: Não poderá ser interrompida a ida e volta do mensageiro. Marinheiros.


Rio de Janeiro, 22 de novembro de 1910."


Para por fim a Revolta da Chibata o governo propôs um acordo com anistia, no entanto, só valeu para conduzir os revoltosos à rendição. Dois dias depois de publicada a lei, o Governo traiu o acordo que lhe dera origem, promovendo demissões, prisões e castigos que, em inúmeros casos, resultaram na morte dos rebelados. O "Almirante Negro" foi colocado numa masmorra da Ilha das Cobras junto com 18 companheiros, mas foi o único a sair vivo. Solto anos depois, João Cândido passou a viver como vendedor de peixes na Praça Quinze, Rio de Janeiro. Morreu em 1969, sem patente e na miséria.


Em 24 de Julho de 2008 quinta-feira, o Governo Brasileiro na figura de Presidente Inácio Lula da Silva anistiou João Cândido Felisberto, o "Almirante Negro" e outros 600 marinheiros que participaram da Revolta da Chibata de 1910.


Bibliografia


CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. 12ª Edição. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009.

MARTINS, João Roberto (2010). A marinha brasileira na era dos encouraçados, 1895–1910. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas.

MOREL, Edmar. A Revolta da Chibata: subsídios para a história da sublevação na Esquadra pelo marinheiro João Cândido em 1910. 5ª edição comemorativa do centenário da Revolta da Chibata, organizada por Marco Morel. São Paulo: Paz e Terra, 2009.

NASCIMENTO, Álvaro Pereira do. Cidadania, cor e disciplina na Revolta dos Marinheiros de 1910. Rio de Janeiro: Mauad X : FAPERJ, 2008.

___________________________________________________________________________________________________

Fonte:

- TVE RS

- Publicado em 15 de dez de 2015

-Carta dos Marinheiros - Serviço de Documentos da Marinha do Brasil

-Foto: Augusto Malta, Rio de Janeiro, 1910, Acervo Fundação Biblioteca Nacional.

bottom of page