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#EuSouEles


Eu vinha há semanas dizendo #elenão, mas assim que disse Haddad sim (já que, no segundo turno, é o que temos), levei, imediatamente, pedrada de desconhecidos e amigos. Entre as pedras, houve uma com um bilhete que dizia: “agora sei quem você é”.

Repare na intensidade; é uma acusação ontológica!

Primeiro fiquei triste pela pedrada, mas pouco depois entristeci por outro motivo. Como demorou tanto tempo pra saberem quem eu sou? Quando foi que me calei? Onde me escondi? Não estava escrito na minha carne quem eu sou? Pois pretendo aqui corrigir esse erro. Nas linhas abaixo abrirei meu coração e direi a todos quem é o Tuco.

Eu sou o gay, o quilombola, o preto. Sou a feminista. O camponês sem terra. Sou o sem teto da cidade. Eu sou o homem preso. Sou mulher que ganha menos. A mulher que apanha. Eu sou o cara que quer justiça social. Distribuição de renda. Taxação de riquezas. Aquele que chamam por aí de esquerdopata. Sou o cara que ele quer metralhar. Deportar. Torturar. Estou entre os 30 mil que deveriam estar mortos. Mas, acima de tudo, sou o gay, o quilombola, o índio, o preto e a mulher.

Eu sou eles.

Me joguei do alto da minha protegida torre de homem, branco, hétero, cristão e classe média.

Sou o gay, o quilombola, o índio, o preto, a mulher, o sem teto e o sem terra.

E u s o u e l e s.

Por favor, tratem a mim como tratariam a eles.

Eles me representam e espero poder representá-los à altura.


Espero que me aceitem.


Eu sou eles e estou, apesar de tudo, feliz com as pedradas. Não pela dor que causam, é claro, mas por não estar entre os que as atiram. Nem entre os que observam calado.


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Fonte

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