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Mil novecentos e oitenta e quatro, mil novecentos e oitenta e cinco

Eu tinha onze anos ou quase. Já ia sozinho para escola e estudava educação moral e cívica e organização social e política do Brasil nas apostilas no colégio positivo, as quais eram compradas e utilizadas pela escola Adventista que ficava no centro de Curitiba.


Algumas salas possuíam piano reto em seus interiores, havia um inspetor de alunos, uma secretária Dona Melanie, uma diretora Dona Mailene. Isso mesmo, não é Marlene, é com i como está escrito.


Rua Carlos de Carvalho próximo ao Bairro Batel. A rotina de estudos era nova, pois estava na quinta série e com isso, tinha sete ou oito professores, semanas voltadas para o estudo bíblico, semanas para jogos escolares, alimentação quase vegetariana.


Na escola, é claro. Menino 33 quilos, um metro e trinta e três centímetros bem aferidos anualmente. A cada manhã antes de adentrarmos a sala de aula, fazíamos fila, tomávamos distância, dos menores até os maiores, cantávamos o hino nacional papagaísticamente e íamos estudar. Me sentia coletivo, grupo, turma, classe, escola, igreja, bloco, arroz papento.


Todos os dias iguais, todos uniformizados com a cor marrom séria e mentirosa. Via televisão em preto e branco e tela azul transparente que criava uns contrastes diferentes dependendo o que se assistia. Via coisas como O Sítio do Pica Pau Amarelo: uma família que era formada por todos, menos por um pai e uma mãe presentes. Não via o amarelo. Não havia pátria, nem mátria como queria Caetano Veloso.


O povo brasileiro estava pronto para desescolhas; todos reunidos dentro da TV que ficava na sala de casa e eu ouvia pela primeira vez o hino nacional cantado melodiosamentete. Não dava para acompanhar aquela voz de fada, de Fafá de Belém. Eu tinha 12 anos e uma televisão colorida e a bandeira era mais verde, mais amarela, mais azul, mais brancas as estrelas que cobriam uma multidão.


Havia mais ordem nas batidas do meu coração. Me via menino-homem com pequenos pelos. Pelas ruas gostava de passear. Pela rua Quinze de Novembro a tevê dos meus olhos eram multicolores, minhas pernas eram velozes. Queria amar, mas ainda não sabia. Queria crescer, mas era me imposta uma moratória. Queria lutar mais. Queria dar um presente aos gregos. Fui tão longe em querer por saber que podia querer-te, querer-me, bem-quereres.


Queria vencer a maior das batalhas e foi assim que veio de Itaqueri da Serra, o nosso Ulysses, como de Ítaca aquele outro, para criar uma arma de combate com 245 artigos, que hoje do menino se tornaram amigos.


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Adriano Chagas Professor licenciado em Letras Português e Literaturas de Língua Portuguesa pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (2008). Bacharel em Direito pelo Instituto Federal do Paraná. Pós-graduado Lato sensu: em História, Arte e Cultura, pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. É Especialista em Educação de Jovens e Adultos pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR, 2010). Possui experiência como Professor de Língua e Literatura Portuguesa de Ensino Fundamental e Médio (SEED) 2009-2010, principalmente, nos seguintes temas: cotidiano, leitura, crônica. Atuação em Ead como tutor no curso de Letras Português-UFSC. É, atualmente, Professor de Língua e Letra Portuguesa do Quadro Próprio do Magistério da Secretaria de Estado da Educação do Paraná..



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