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A Doutrina Social da Igreja e a Dignidade Humana

  • Daniel Mota
  • há 2 horas
  • 5 min de leitura

 


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Alguns anos atrás, tive a oportunidades do contato com a Doutrina Social da Igreja (DSI), fiquei  encantado como os teóricos da Igreja, nos apresentaram um documento ímpar, cheio de humanidade.

 

A Doutrina Social da Igreja (DSI) é um dos mais ricos testemunhos do compromisso da Igreja Católica com a dignidade da pessoa humana. Fruto de séculos de reflexão ética, filosófica e espiritual, ela busca oferecer respostas cristãs aos grandes desafios sociais, econômicos e políticos do mundo moderno. Desde a encíclica Rerum Novarum (1891), do Papa Leão XIII, até os documentos mais recentes, como a Laudato Si’ e a Fratelli Tutti, do Papa Francisco, a DSI reafirma o princípio de que o Evangelho é também uma força transformadora da sociedade e deve inspirar as estruturas humanas em favor da justiça, da solidariedade e da paz.

 

Mais do que um corpo doutrinário, a DSI é uma visão humanista e espiritual da convivência social. Ela nasce do desejo de ver o ser humano respeitado em sua totalidade, corpo, mente e espírito, e propõe uma ordem social que coloque a pessoa no centro, e não o lucro ou o poder. Sua finalidade é garantir que cada ser humano possa viver com dignidade, desenvolver seus talentos e contribuir livremente para o bem comum. 

 

Em sua leitura, consegui, elencar seus princípios fundamentais, pois vão, da dignidade da pessoa humana, o bem comum, a solidariedade, a subsidiariedade e a destinação universal dos bens, sustentam uma compreensão ética da vida social. Eles recordam que a sociedade deve servir ao homem, e não o contrário. O desenvolvimento autêntico é aquele que promove a vida e respeita o ser humano em todas as suas dimensões: material, social, cultural e espiritual.

 

A Doutrina Social da Igreja é também um convite à ação. Ela não se limita a reflexões teóricas: propõe caminhos concretos para que o amor, a justiça e a fraternidade se tornem realidades no cotidiano. Em um mundo marcado por desigualdades, exclusões e guerras, a DSI oferece uma mensagem de esperança e de reconstrução, defendendo que a transformação social só é verdadeira quando começa pela valorização da pessoa humana.

 

A DSI não pertence a correntes ideológicas. Não é comunista, nem liberal, nem conservadora: é evangélica e humana. O que ela denuncia é a indiferença e o egoísmo que transformam o próximo em objeto. Por isso, desafia políticos, empresários e governantes, especialmente aqueles que se declaram cristãos, a repensarem suas decisões à luz da ética do Evangelho. O verdadeiro cristão não se contenta em professar a fé apenas nos templos; ele a vive no respeito, na justiça e na defesa dos direitos humanos.

 

Um dos eixos centrais da Doutrina Social é o trabalho humano, compreendido como vocação e participação na obra criadora de Deus. Pelo trabalho, o ser humano transforma o mundo e a si mesmo. É no labor cotidiano que o homem afirma sua dignidade, exercita sua liberdade e realiza sua vocação de cooperador do Criador. O trabalho não é castigo, mas expressão do amor e da inteligência humana a serviço da vida.

 

A dignidade do trabalhador é, portanto, um valor sagrado. O Magistério da Igreja ensina que o capital deve estar a serviço do trabalho, e nunca o contrário. Nenhum sistema econômico ou político é justo se coloca o lucro acima da pessoa. A exploração, o desemprego e as condições indignas de trabalho são formas graves de violência social, porque negam o valor divino da vida humana.

  Entre os direitos fundamentais dos trabalhadores, a Doutrina Social da Igreja destaca:

  • O direito a uma remuneração justa, capaz de assegurar uma vida digna ao trabalhador e à sua família; 

  • O direito ao repouso, à saúde e à segurança no ambiente de trabalho; 

  • O direito à proteção social, aposentadoria e benefícios em caso de doença, maternidade ou acidente; 

  • O direito de associação e greve, exercido de modo pacífico e responsável; 

  • O direito à participação na vida econômica e social, como cidadão e colaborador do bem comum. 


O salário justo é apresentado como expressão concreta da dignidade humana. Ele não é um favor, mas um direito. A justiça social exige que o trabalhador receba não apenas o mínimo para sobreviver, mas o suficiente para viver com dignidade, educar seus filhos, cuidar da saúde e ter tempo de descanso e convivência familiar. Assim, o trabalho torna-se instrumento de promoção humana e não de opressão.

 

A DSI reconhece, ainda, o valor das organizações sindicais como espaços legítimos de solidariedade e defesa dos direitos dos trabalhadores. O sindicalismo autêntico não deve ser instrumento de luta de classes, mas expressão de cooperação, diálogo e busca do bem comum. Capital e trabalho não são inimigos, mas parceiros necessários para o progresso humano. A solidariedade no mundo do trabalho é, portanto, um dever moral e um caminho para a paz social.

 

Em tempos de globalização e transformações tecnológicas, a DSI convida a uma nova solidariedade: uma que inclua os trabalhadores informais, os imigrantes, os jovens sem oportunidades e as mulheres ainda vítimas de desigualdade. A dignidade humana é indivisível, e uma sociedade que exclui parte de seus filhos jamais será plenamente livre.

 

A importância da Doutrina Social da Igreja para a dignidade humana é imensa. Ela recorda que toda vida humana é sagrada e que o valor de uma sociedade se mede pela forma como trata seus membros mais frágeis. A DSI é um instrumento de evangelização, mas também um instrumento de libertação, porque ajuda o homem a redescobrir quem ele é: imagem de Deus, portador de direitos inalienáveis e responsável pela construção de um mundo mais justo.

 

Na minha concepção, a Doutrina Social da Igreja é um caminho para a humanização da vida em sociedade. Ao defender o trabalhador, o pobre, o doente, o migrante e o idoso, ela defende toda a humanidade. Ao falar de economia, fala de ética; ao falar de justiça, fala de amor. E ao falar de trabalho, fala da dignidade de cada ser humano, que é chamado a participar, com suas mãos e seu coração, da construção do bem comum. 

 

Neste sentido, acredito que a DSI permanece como uma luz que atravessa os séculos, recordando que nenhum progresso é verdadeiro se não for humano, e nenhuma economia é justa se não colocar a dignidade da pessoa no centro de suas decisões. É nesse espírito que a Igreja convida todos, crentes e não crentes, a transformar o mundo com base na justiça, na solidariedade e na esperança, pilares do Evangelho e da verdadeira civilização do amor.

 

Mas infelizmente, muito cristãos não perceberam a grandeza deste documento e sua importância para a humanidade.

 

Prof. Daniel Mota


Fonte:


Prof. Daniel Mota possui graduação em Filosofia pela Universidade Federal do Paraná (1996), especialização em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC/PR) Campus Curitiba e é pós-graduando na UNESPAR - Universidade Estadual do Paraná, Campus de Apucarana FECEA-PR. Com 33 anos de experiência na área da educação, trabalhou por 25 anos no mercado financeiro e é funcionário da rede pública de ensino do Estado do Paraná. Além disso, é proprietário e editor do site Os Argonautas Mídia Alternativa e fundador e proprietário do projeto pela democratização da leitura, Sebo Apucarana.

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