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A MODERNIDADE LÍQUIDA, SOLÍDA  E O MEDO PARA  ZYGMUNT BAUMAN


Alguns anos atrás, terminei a leitura de duas obras de Zygmunt Bauman, que me fez refletir como anda as nossas relações sociais e pessoais, obras essas que nos levou a fazermos releitura do nosso cotidiano, entre elas temos a “Modernidade Líquida” (2000) e o “Medo Líquido” (2006) ambas as obras são impactantes, para compreendermos a efemeridade das nossas relações a partir do Séc. XXI.

O que percebemos em ambas as leituras, foi a ideia das relações pessoais analisadas à luz da modernidade líquida, caracterizada pela fluidez, instabilidade e incertezas, Bauman argumenta que as relações pessoais na modernidade líquida tendem a ser mais fragmentadas e temporárias, sendo que, as pessoas são menos propensas a investir em relacionamentos de longo prazo, pois as estruturas sociais estão em constante mudança e as identidades são mais fluidas.


Durante a leitura também, consegui perceber nitidamente que nosso sociólogo explora a relação e como a individualização na sociedade contemporânea afeta as relações pessoais, incentivando as pessoas a priorizarem seus próprios interesses e necessidades em detrimento dos laços comunitários e das relações interpessoais, exagerando no egocentrismo e narcisismo nesses tempos modernos.


Isso me fez pensar na ideia de como o consumo influencia as relações pessoais, destacando a ideia de como consumo se tornou uma forma central de construir e expressar identidades na modernidade líquida. Segundo Bauman, as relações muitas vezes são moldadas por padrões de consumo e pela busca por status e reconhecimento social, neste sentido não posso deixar de associar a ideia de Marx sobre a alienação do consumo, tema essa explorado de forma en passant nas obras "Manuscritos Econômico-Filosóficos" (1844) e no "O Capital" (1867).


Outro ponto interessante nas obras de Bauman, e a percepção que nos apresenta a ausência de laços sociais sólidos e duradouros na modernidade líquida, essa ausência, pode levar à solidão e ao isolamento social,  gerando  uma nova geração de pessoas desconectadas e alienadas, mesmo em um mundo cada vez mais conectado digitalmente.


Essa geração de pessoas com sentimentos efêmeros, segundo Bauman, cria nelas, um sentimento de medo e desconfiança, pautando as relações pessoais na sociedade contemporânea, contribuindo ainda mais, para a fragmentação e a falta de solidariedade social nestes tempos sem sabor, alegria e sentido.  


O interessante é que as pessoas perdem a esperança e possivelmente tornam-se relutantes em confiar umas nas outras, temendo serem usadas ou traídas, ou seja, as pessoas perdem a solidez e esperança na humanidade.


E por fim, Bauman levanta questões éticas relacionadas às relações pessoais na modernidade líquida, questionando até que ponto as pessoas são responsáveis umas pelas outras em um contexto de constante mudança e incerteza, em contraponto com essa ideia da modernidade líquida, ele nos insere na narrativa da modernidade sólida, onde as  relações pessoais tendem a ser mais estáveis e permanentes e as  estruturas sociais são mais rígidas e previsíveis, o que permite o desenvolvimento de laços sociais sólidos ao longo do tempo, neste prisma, relata  que  possui uma maior coesão social e um sentido de comunidade mais forte. As pessoas possuíam laços sociais mais densos e participavam ativamente de redes sociais e comunitárias.


Nas relações pessoais na modernidade sólida, havia um forte senso de comprometimento e lealdade. As pessoas se comprometiam mais facilmente com relacionamentos de longo prazo, como o casamento, e tinham expectativas mais claras sobre suas responsabilidades e obrigações.


Outra percepção e a “Identidade e Pertencimento”, segundo Bauman, na modernidade sólida as identidades eram mais estáveis e definidas, com as pessoas se identificando mais fortemente com papéis sociais e pertencendo a comunidades e grupos sociais específicos, gerando um senso de confiança e solidariedade entre as pessoas, bem como, os laços sociais eram baseados em relações de confiança mútua e em uma sensação de pertencimento a uma comunidade compartilhada e sólida.


Neste sentido, havia menos ênfase no individualismo e mais ênfase no coletivismo e no bem-estar comum, as pessoas estavam mais dispostas a sacrificar seus próprios interesses em prol do bem da comunidade aos moldes da ética Aristotélica.

No que se refere ao “Medo Liquido” (2006), nosso sociólogo, não foge do tema central que permeia suas reflexões, ele analisa o papel do medo na sociedade contemporânea, explorando a ideia, de  como o medo se tornou uma força poderosa que molda nossas vidas e relações sociais e nos torna frágeis e efêmeros.


Ao ressaltar que vivemos em uma "cultura do medo", onde o medo é amplamente disseminado e explorado por várias instituições sociais, como o governo, a mídia, as corporações e as religiões.  Ele examina como o medo é usado como uma ferramenta de controle social e como contribui para a fragmentação da sociedade, formatando para a sensação generalizada de insegurança e incerteza, e é aí, que Bauman explora como as mudanças rápidas e imprevisíveis na economia, na política e na tecnologia alimentam o medo e a ansiedade.


É incrível, como ele apresenta, a ideia em que o medo é usado como uma estratégia de marketing para vender produtos e serviços, criando uma cultura de consumo baseada na busca por segurança e proteção, neste sentido o medo é explorado e instrumentalizado pela política, especialmente em questões como segurança nacional, imigração e terrorismo.


Em síntese, na obra,  “Medo Liquido” (2006)  é discutido, como o medo é usado para justificar medidas de segurança draconianas e restrições às liberdades individuais nestes tempos modernos, também, explora como o medo contribui para a desconfiança e a fragmentação social, minando os laços de solidariedade e coesão social, bem como argumenta, que o medo leva as pessoas a se isolarem e a se voltarem umas contra as outras, em vez de se unirem em busca de soluções comuns, fazendo as pessoas perderem a sua humanidade e a dignidade.

 

Existem implicações éticas, neste processo no uso do medo na sociedade contemporânea, e  Bauman, questiona até que ponto é legítimo usar o medo como uma ferramenta de controle e dominação na sociedade contemporânea, e explora a reflexão, como o medo se tornou uma força poderosa que molda nossas vidas, relações e instituições sociais.

 

Zygmunt Bauman foi um renomado sociólogo, nascido 19 de novembro de 1925 em Poznań, Polônia, e falecido em 2017 em Leeds, Reino Unido. Sua vida e carreira foram marcadas por uma profunda análise da sociedade contemporânea, especialmente em relação à modernidade, globalização e consumo.

As contribuições acadêmicas de  Bauman,  é evidente,  por seus conceitos de "modernidade líquida" e "sociedade de consumo", que exploram as mudanças sociais e culturais na era contemporânea, bem como, é considerado um dos sociólogos mais influentes do século XX e XXI. Ele faleceu em 9 de janeiro de 2017, Leeds, Reino Unido, deixando para trás um legado duradouro na sociologia e além.


  • Modernidade e Holocausto (1989)

  • Amor Líquido (2003)

  • Vida Líquida (2005)

  • Modernidade Líquida (2000)

  • 44 Cartas do Mundo Líquido Moderno (2010)

  • A Cultura no Mundo Líquido Moderno (2011)

  • Medo Líquido (2006)


Prof. Daniel Mota

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Prof. Daniel Mota, possui graduação em Filosofia pela Universidade Federal do Paraná (1996). Especialização em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC/PR) Campus Curitiba. Pós-graduando na UNESPAR - Universidade Estadual do Paraná, Campus de Apucarana FECEA-PR. Professor com 30 anos de experiência na área da educação, em sala de aula com desenvolvimento de projetos educacionais nas áreas de Filosofia, História e Sociologia bem como consultoria educacional e financeira. Trabalhou por 25 anos no mercado financeiro, é funcionário da rede pública de ensino do Estado do Paraná, proprietário, editor do site Os Argonautas Mídia Alternativa, fundador e proprietário do projeto pela democratização da leitura, Sebo Apucarana.

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