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A vida do homem é resolver problemas?

Um dia desses, ouvi a seguinte frase: “A vida do homem é resolver problemas”, e nisso me perguntei: será mesmo? Veja bem, reduzir algo tão grandioso, vasto e profundo como a vida a um fim simples de “resolver problemas” parece-me muito, muito injusto. Digo isso pois a vida pode ser muito mais que isso. É claro, para a grande maioria dos brasileiros, aproximadamente 97%, ao menos 1/3 do seu dia é dedicado para resolver problemas profissionais. Depois desses problemas, vem os problemas pessoais, familiares, amorosos, etc. Podemos então dizer que grande parte da vida do homem (mas não toda) é dedicada a resolver problemas? Sim, é possível. Mas tudo varia do ponto de vista de cada um. A vida, sem dúvida alguma, é injusta. Alguns tem menos preocupações e responsabilidades que outros. Fato é que isso não pode ser um impeditivo na busca de uma vida feliz.


Ao enxergar a vida dessa forma, a meras resoluções de problemas, esquecemos do quão prazeroso e como não há nada de problemático em contemplar o campo, ouvir o canto dos pássaros ou observar o céu azul. Tomar um café com um amigo, assistir a uma missa, ou então apenas assistir a um filme despreocupado. Ao reduzir a vida dessa forma, estamos inclinando nosso pensamento para que a própria vida é um problema a ser resolvido, quando na verdade não é. Quem nunca esteve em seu momento de lazer pensando nos problemas que haviam de ser resolvidos? Ou então, que deu a esses problemas um tamanho muito maior do que eram? De fato, damos aos problemas uma maior importância do que eles realmente têm. A famosa expressão “tempestade em copo d’água”retrata perfeitamente a nossa dimensão diante de coisas tão insignificantes. Reflita comigo: quantas vezes você já se incomodou, por exemplo, por ter que esperar em uma fila? Ou então, por ter alguém andando devagar em sua frente, seja no trânsito ou na calçada? Comigo, em muitos casos, me estressou ao nível de alterar o meu humor.


A conclusão, ao meu modo de ver, mais humana e saudável de alcançar, é aquela que, para que o momento de ócio e lazer, seja ele sozinho ou com entes queridos, torne-se plenamente satisfatório, é necessário que ele seja restrito, a ser alcançado depois do exercício das responsabilidades. O próprio Dr. Eugênio Fontes, protagonista do romance Olhai os Lírios do Campo, de Érico Veríssimo, 1938, toma essa conclusão: percebeu que, cumprindo com o exercício do seu ofício de médico durante todo o dia, o momento de carinho com sua filha Anamaria ao fim das tardes era muito mais saboroso do que se ele estivesse com o tempo plenamente à disposição para usufruir como bem entendesse.


Resolver problemas é algo necessário e cotidiano na vida de qualquer pessoa. Não podemos dizer que isso é a vida, mas sim que faz parte da vida. Uma pessoa pode enxergar essas necessidades como negativas e viver amarga e mau humorada a vida inteira, não desfrutando dos momentos alegres por ter contaminado sua alma com esses pensamentos ruins. Por outro lado, aquele que entendeu seu lugar no mundo, e compreendeu que os problemas fazem parte, que são um processo para poder vivenciar os momentos livres com mais intensidade, este sim tem uma disposição maior para alcançar a felicidade.


E você, como você enxerga a vida?


João Mota 18/03/2024

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