top of page

Crime e Castigo: Uma Jornada pelos Abismos da Alma Humana

"Crime e Castigo", escrito pelo autor russo Fiódor Dostoiévski, é uma obra literária profunda que explora temas como moralidade, redenção, sofrimento e a natureza humana, uma obra ímpar, que possui algumas lições que podemos fazer algumas reflexões.

         

Escrevo isso, pois, na época que era acadêmico de Filosofia na Universidade Federal do Paraná, nos anos 90, realizamos uma análise na disciplina de Psicologia Social.  


A obra é ambientada em uma noite fria e nebulosa em São Petersburgo, cidade que se tornaria palco de uma narrativa que penetraria nos abismos da alma humana. Rodion Raskólnikov, um ex-estudante universitário atormentado por ideias filosóficas radicais, caminhava pelas ruas escuras, mergulhado em pensamentos sombrios.


A pobreza o assolava, e a ideia revolucionária de que alguns indivíduos extraordinários poderiam transcender as leis morais convencionais pairava sobre sua mente como uma sombra.


Numa noite repleta de tensão e desespero, Raskólnikov concebeu um plano ousado. A usura Alyona Ivanovna, mulher cruel e avarenta, tornou-se alvo de seus devaneios filosóficos transformados em ação. Acreditando que seu ato criminoso poderia resultar em benefícios para a humanidade, Raskólnikov trilhou o caminho sombrio do assassinato.


A atmosfera tornou-se eletricamente carregada quando Raskólnikov, movido por uma mistura de convicção e desespero, concretizou seu plano macabro. A usurária foi vítima de suas mãos trêmulas, mas a presença inesperada da irmã, Lizaveta, mergulhou a cena num caos imprevisível. O que deveria ser uma ação calculada tornou-se um delírio sangrento, levando Raskólnikov a enfrentar a realidade de seu crime brutal.


A narrativa então se desdobra como um intricado quebra-cabeça, com Raskólnikov no epicentro de uma trama que mistura o crime em si, a investigação policial e os tormentos psicológicos do protagonista. A cidade de São Petersburgo torna-se um cenário simbólico, refletindo as sombras da moralidade que pairam sobre a história.


A investigação policial adiciona uma camada de suspense à narrativa. Raskólnikov, agora lutando para manter as aparências e esconder seus demônios interiores, é envolvido num jogo tenso com as autoridades. Cada passo que ele dá é como uma dança perigosa, onde a verdade está sempre à espreita nas sombras.


Os relacionamentos de Raskólnikov, entrelaçados na trama, revelam-se como peças cruciais do quebra-cabeça moral. Sua família, amigos e, especialmente, Sonia Marmeladov, a jovem prostituta piedosa, tornam-se catalisadores para sua jornada de redenção. Em Sonia, Raskólnikov encontra uma figura que personifica a compaixão e a fé, despertando nele a chama da esperança em meio à escuridão de sua alma.


A narrativa atinge seu clímax quando Raskólnikov, consumido pela culpa e pelo conflito interno, confessa seu crime a Sonia. Essa confissão é um momento de catarse, um grito desesperado por redenção. A escolha de aceitar a punição pelos seus atos leva-o a uma sentença de trabalhos forçados na Sibéria, onde ele enfrenta o isolamento e o sofrimento físico como parte de sua expiação.


O desfecho da história, embora marcado pelo castigo, sugere a possibilidade de renovação espiritual e moral. Raskólnikov, agora em busca de redenção, inicia uma jornada de autoconhecimento e transformação. O leitor é deixado refletindo sobre as profundezas da natureza humana, sobre os abismos da culpa e sobre a possibilidade de encontrar luz mesmo nos lugares mais sombrios da alma.


Assim, "Crime e Castigo" não é apenas uma narrativa de crime e castigo, mas uma exploração profunda da psicologia humana, da moralidade e da incessante busca pela redenção. A obra de Dostoiévski permanece como uma viagem inesquecível pelos labirintos da condição humana, onde os fios do crime e do castigo se entrelaçam numa trama que ressoa além das páginas e do tempo.


As reflexões que realizamos, nos levou a explorar as complexidades morais associadas às escolhas humanas. O protagonista, Raskólnikov, comete um crime justificado por sua teoria de que algumas pessoas têm o direito moral de quebrar a lei em nome de um bem maior. As consequências morais de seu ato, no entanto, assombram-no profundamente.


A história destaca o peso psicológico e emocional da culpa. Raskólnikov luta com a culpa e o remorso após cometer o assassinato, e essa luta interior é uma parte central da narrativa bem explorada por Dostoiévski.


E, percebemos no decorrer da leitura uma busca por redenção, que  é um tema importante presente. No qual, fica notório no Raskólnikov, que em meio à sua angústia, procura um caminho para a redenção e para encontrar um significado mais profundo na vida.


O Dostoiévski de forma magnifica, explora a psicologia de seus personagens de maneira profunda. Ele examina as complexidades da mente humana, incluindo as motivações obscuras por trás das ações aparentemente irracionais.


A obra também aborda as questões sociais da Rússia do século XIX, destacando a pobreza extrema e a desigualdade social como fatores que moldam a psique dos personagens.


O romance destaca a importância da empatia na compreensão do comportamento humano. A capacidade de se colocar no lugar do outro é crucial para a compreensão e aceitação das falhas e fraquezas humanas.


Dostoiévski faz uma critica a ideia de que a razão pode justificar qualquer ação. Raskólnikov tenta justificar seu crime por meio de uma lógica fria e racional, mas a narrativa sugere que a moralidade não pode ser completamente subjugada pela razão.

 

Enfim, recomendamos a leitura da obra, para saborear a literatura russa em sua complexidade, expressa pela visão Dostoiévski em Crime e Castigo.

 

Prof. Daniel Mota


Dostoiévski. Fiodor. Crime e castigo. Coleção LESTE. Tradução, prefácio e notas de Paulo Bezerra. 5ª. ed. Editora 34. São Paulo.2007.

_______________________________________________________________________________________________________________

Prof. Daniel Mota, possui graduação em Filosofia pela Universidade Federal do Paraná (1996). Especialização em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC/PR) Campus Curitiba. Pós-graduando na UNESPAR - Universidade Estadual do Paraná, Campus de Apucarana FECEA-PR. Professor com 30 anos de experiência na área da educação, em sala de aula com desenvolvimento de projetos educacionais nas áreas de Filosofia, História e Sociologia bem como consultoria educacional e financeira. Trabalhou por 25 anos no mercado financeiro, é funcionário da rede pública de ensino do Estado do Paraná, proprietário, editor do site Os Argonautas Mídia Alternativa, fundador e proprietário do projeto pela democratização da leitura, Sebo Apucarana.

 

bottom of page