Entre a Crítica e o Fanatismo: A Necessidade da Pluralidade Política
- O Argonauta

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Atualizado: há 6 dias

Nestes dias em que o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro foi preso preventivamente pela Polícia Federal, em Brasília, por decisão do ministro Alexandre de Moraes do Supremo Tribunal Federal (STF), fiquei refletindo sobre a percepção de seus correligionários diante desse fato (BBC, 2025). Será que eles realmente compreendem que nem toda pessoa que critica o ex-presidente é, automaticamente, petista ou alinhada a qualquer outro grupo político? Essa dificuldade em reconhecer a pluralidade de posições revela uma visão empobrecida da vida pública.
Aristóteles já afirmava que a política é o espaço onde diferentes visões se encontram, buscando a virtude por meio da ponderação e da racionalidade. Para ele, a vida coletiva só se fortalece quando somos capazes de evitar extremos e encontrar o equilíbrio, algo impossível quando se reduz qualquer crítica a uma guerra entre lados antagônicos (Aristóteles, Política). A reação de alguns apoiadores de Bolsonaro, que enxergam toda discordância como oposição partidária, reflete justamente esse afastamento da reflexão ponderada que Aristóteles valorizava.
Norberto Bobbio reforça essa compreensão ao destacar que a democracia só se sustenta verdadeiramente quando reconhece a legitimidade da pluralidade. Para ele, o cerne do debate democrático não é dividir o mundo entre “nós” e “eles”, mas compreender que posições divergentes podem coexistir e dialogar (Bobbio, 1995). Transformar diferenças em inimizades, como muitas vezes ocorre na polarização política brasileira, é um empobrecimento do espírito democrático.
Não sou simpatizante do bolsonarismo, mas convivo bem com essa situação, até porque tenho muitas pessoas próximas que veem legitimidade nas narrativas, e, por vezes, nas falácias do ex-presidente. Essa convivência me lembra diariamente que é possível discordar sem hostilizar, e que a maturidade política exige separar afeto pessoal de alinhamento ideológico. Essa capacidade de coexistir com o contraditório é um dos pilares da democracia defendida por Bobbio (2020).
O ufanismo cego tem deixado muitas pessoas quase catatônicas, incapazes de questionar ou considerar outras perspectivas. Para alguns, criticar Bolsonaro é automaticamente apoiar o PT, como se o universo político se resumisse a polos opostos. Mas a realidade é muito mais complexa. Muitos que rejeitam o bolsonarismo apenas repudiam comportamentos, discursos ou práticas que consideram inaceitáveis, sem desejar necessariamente a volta de outra corrente ao poder.
Refletir sobre isso é fundamental. Uma democracia madura exige senso crítico, capacidade de diálogo e disposição para enxergar além dos rótulos. Aristóteles e Bobbio, cada um a seu modo, nos lembram que a política não deve ser campo de fanatismos, mas de convivência, debate racional e pluralidade.
ARISTÓTELES. Política. Tradução de Thomas Khurkin. São Paulo: Nova Cultural, 1986.
BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Elsevier, 1995.
BOBBIO, Norberto. Democracia e Pluralismo. Brasília: UnB, 2020.
BBC Brasil. Jair Bolsonaro é preso preventivamente pela Polícia Federal. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c0ed82q97wqo. Acesso em: 24 nov. 2025.

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