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LENDA DA RAPOSA SAGRADA DOS APUKÁS


Nas antigas florestas da tribo Apuká, uma lenda tão misteriosa quanto a névoa da manhã ecoava de geração em geração: a Lenda da Raposa Sagrada. Diziam os sábios xamãs que essa criatura encantada era um vínculo entre o mundo dos homens e o reino dos deuses, uma guardiã dos segredos da natureza e mensageira dos mistérios divinos.


A Raposa Sagrada, com sua pelagem dourada como o sol poente, olhos brilhantes como as estrelas e uma agilidade que parecia desafiar a gravidade, percorria os recantos mais profundos da floresta, deixando apenas pegadas de luz em seu rastro. Diziam que ela podia atravessar as barreiras entre o mundo material e espiritual, entendendo a linguagem dos ventos, das águas e das folhas que sussurravam segredos milenares.


Era dito que os Apukás abençoados com a visão da Raposa Sagrada receberiam dons especiais. Aqueles que conseguissem vislumbrá-la em meio à densa vegetação seriam agraciados com intuição aguçada e sabedoria incomparável. Acredita-se que ela escolhia os guerreiros mais corajosos e os xamãs mais sensíveis para compartilhar seus ensinamentos em sonhos vívidos e visões reveladoras.


A lenda conta que, uma vez a cada ciclo lunar, os Apukás se reuniam para celebrar a presença da Raposa Sagrada. Em uma clareira adornada com flores e folhas, eles acendiam uma fogueira e entoavam cânticos antigos em sua homenagem. Frutas frescas e ervas aromáticas eram ofertadas como símbolos de respeito e gratidão. Era um momento de conexão profunda com a natureza e com as forças invisíveis que governavam o universo.


Mas a Raposa Sagrada era mais do que uma mera guardiã. Dizia-se que ela também era uma protetora dos Apukás em tempos de perigo. Em tempos de guerra ou desafios iminentes, acredita-se que ela se materializava para inspirar os guerreiros, conduzindo-os com suas estratégias astutas e coragem inabalável. Sua presença era uma promessa de que, mesmo nas sombras da incerteza, os Apukás jamais estavam sozinhos.


Com o passar dos séculos, a Lenda da Raposa Sagrada continua viva nos corações dos Apukás. Seus contos são contados à luz das fogueiras, suas pegadas invisíveis permanecem nos caminhos da floresta e sua sabedoria é transmitida de geração em geração. A Raposa Sagrada permanece como uma conexão com a natureza, uma ponte para o desconhecido e um símbolo de esperança, lembrando aos Apukás que os mistérios do mundo estão entrelaçados, assim como os fios de luz e sombra da própria floresta.

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Texto inspirado na obra de Horace Miner In: A.K. Rooney e P.L. de Vore (orgs) You and the others: Readings in Introductory Anthropology (Cambridge, Erlich) 1976, “Ritos corporais entre os Nacirema”.


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