Ministra Cármen Lúcia e o Emicida.
- O Argonauta

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Hoje, há lugares por onde passo e sinto, antes mesmo de qualquer palavra, que não sou bem-vindo. Às vezes é a cor da minha pele que desperta silêncios pesados; às vezes são minhas crenças, outras vezes minhas ideologias, e, em certos momentos, é apenas a minha energia, essa presença que alguns preferem evitar antes mesmo de conhecer.
Carrego, todos os dias, olhares que deslizam sobre mim como lâminas: olhares desconfiados, bolsas apertadas contra o peito,
passos apressados mudando de direção para não cruzarem o meu. Não é surpresa. Nunca foi. É uma velha história repetida em novos cenários.
E, apesar disso, preciso vigiar cada palavra que digo, cada gesto que deixo escapar, como se minha vida fosse um palco onde eu atuo para não incomodar. Cuido da minha postura, do meu tom de voz, da forma como ocupo o espaço, porque a minha etnia, tantas vezes, não é aceita: é apenas tolerada.
E por ser tolerada, preciso medir o chão onde piso, como se o mundo tivesse lugares que podem ser meus e outros onde devo passar em silêncio, fazendo-me menor para caber na expectativa dos outros.
Há também aqueles que negam tudo isso, que dizem que exagero, que invento, que minha escrita não passa de ficção.
Mas eu sei do peso que carrego. Eu sei do que falo. Porque vivo, todos os dias, o esforço de existir sem pedir desculpas por ser quem sou.
Prof. Daniel Mota

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