O Mito da Proclamação da República
- O Argonauta

- 16 de nov.
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No dia de ontem (15/11/2025), foi lembrado o mito da Proclamação da República, mas, Historiador e Filósofo, precisamos fazer uma reflexão, pois a Proclamação da República no Brasil em 15 de novembro de 1889 não foi apenas uma simples mudança política; acreditamos que ela representou uma ruptura cuidadosamente orquestrada pelas elites rurais e industriais que emergiam no final do século XIX.
Essas classes, inconformadas com os limites impostos pela monarquia e pela abolição da escravidão, buscavam criar uma nova ordem que garantisse seus interesses econômicos e a manutenção do poder político em bases excludentes.
Creio que o imperador Dom Pedro II, apesar de sua dedicação e prestígio acumulado ao longo dos anos, foi surpreendido pela rapidez e pela ausência de resistência ao golpe. Como destaca Boris Fausto, “o imperador mostrou-se resignado e desarmado diante do golpe, não reagindo” (FAUSTO, 1995, p. 234). Esse silêncio, muitas vezes interpretado como um esgotamento do regime, refletiu também a força de uma articulação interna das elites que não viam na monarquia a forma adequada para seus novos projetos.
A elite rural, fragilizada economicamente e socialmente pela abolição, viu na monarquia, que apoiou a libertação dos escravizados, um obstáculo para seus interesses. Acredito que esse ressentimento foi um dos vetores centrais para a ruptura institucional que presenciamos. Antonio Carlos Serra frisa que “a República nascente não foi fruto de um movimento popular, mas de uma elite que queria repartir o poder em bases sociais restritas” (SERRA, 2001, p. 78). Esse fato nos mostra que a exclusão social já estava no cerne desse novo projeto político.
Além disso, é claro para nós que a influência da eugenia, à época considerada uma ciência respeitada, serviu para justificar um projeto de exclusão social ainda mais explícito. O regime republicano inicial, segundo José Murilo de Carvalho, “teve no cerne uma visão elitista e excludente, nascida de um pacto entre militares, civis e setores econômicos que queriam excluir do poder grupos sociais considerados ‘indesejados’” (CARVALHO, 1997, p. 156). Isso demonstra que o golpe não apenas substituiu um modelo de governo por outro, mas solidificou preconceitos e desigualdades profundas.
Também acreditamos que as consequências sociais e políticas imediatas da proclamação foram a consolidação de um sistema que privilegiava as elites urbanas e militares, enquanto excluía grande parte da população, especialmente ex-escravizados, trabalhadores rurais e as camadas populares das cidades. A ausência de um projeto verdadeiramente democrático e inclusivo abriu espaço para o fortalecimento de práticas autoritárias e para o aprofundamento das desigualdades sociais que ainda desafiam o Brasil.
Por fim, creio que refletir sobre essa ruptura orquestrada nos ajuda a enxergar que a Proclamação da República não foi um avanço para todos, mas um período que reafirmou a exclusão e o controle por parte das elites. É fundamental manter esse olhar crítico para que possamos avançar na construção de uma democracia mais justa e plural, que efetivamente inclua todos os brasileiros.
Prof. Daniel Mota
Referências bibliográficas
CARVALHO, José Murilo. Cidadania no Brasil: o longo caminho. 5. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1997.
FAUSTO, Boris. História do Brasil. 11. ed. São Paulo: Edusp, 1995.
SERRA, Antonio Carlos. Formação do Brasil Contemporâneo. 12. ed. São Paulo: Contexto, 2001.
Imagen: Proclamação da República é uma pintura a óleo sobre tela de 1893 realizada por Benedito Calixto
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Prof. Daniel Mota possui graduação em Filosofia pela Universidade Federal do Paraná (1996), especialização em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC/PR) Campus Curitiba e é pós-graduando na UNESPAR - Universidade Estadual do Paraná, Campus de Apucarana
. Com 33 anos de experiência na área da educação, trabalhou por 25 anos no mercado financeiro e é funcionário da rede pública de ensino do Estado do Paraná. Além disso, é proprietário e editor do site Os Argonautas Mídia Alternativa e fundador e proprietário do projeto pela democratização da leitura, Sebo Apucarana.

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