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O TEMPO NA COSMOVISÃO DOS KAINGANGUES

  • Foto do escritor: O Argonauta
    O Argonauta
  • 1 de abr. de 2024
  • 4 min de leitura
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Ao longo dos anos, tenho estudado e compartilhado muitas experiências junto aos Kaingangues, povo maravilhoso com o qual tenho o privilégio de trabalhar em meu ativismo. Nesse contexto, gostaria de compartilhar uma das leituras que fiz ao longo do tempo sobre o conceito de tempo, especialmente porque é muito diferente da concepção dos não indígenas.

Para os Kaingangues, sob minha perspectiva, o tempo não é apenas uma medida linear de passado, presente e futuro, mas sim uma teia intricada de relações, ciclos naturais e saberes ancestrais que conectam todas as formas de vida. Ao contrário da concepção ocidental de tempo como algo a ser controlado e dominado, para os indígenas, o tempo é um elemento sagrado que guia suas tradições, rituais e formas de vida.

Na cosmovisão indígena, o tempo é percebido como cíclico, refletindo os padrões naturais de renovação, crescimento e transformação que permeiam o universo. Os ciclos das estações, os movimentos dos astros e as mudanças na flora e fauna são todos vistos como expressões do tempo sagrado, que guia as atividades cotidianas e rituais das comunidades indígenas.

Os ciclos da natureza desempenham um papel central na compreensão do tempo pelos povos indígenas. A observação das fases da lua, por exemplo, é fundamental para determinar o calendário agrícola e as práticas de plantio e colheita. As diferentes fases da lua são vistas como indicadores dos melhores momentos para semear, cultivar e colher alimentos, garantindo assim a segurança alimentar das comunidades.

Além disso, o sol é reverenciado como uma fonte de vida e energia. Seu ciclo diário de nascer e se pôr é celebrado em rituais que honram sua influência na fertilidade da terra, no crescimento das plantas e no bem-estar das pessoas. O sol não apenas fornece calor e luz, mas também é considerado uma manifestação do divino, conectando os seres humanos ao cosmos e aos espíritos da natureza.

A agricultura desempenha um papel fundamental na vida dos povos indígenas, e seu tempo é regido pelos ciclos naturais. Os indígenas entendem que a terra é uma parceira viva e consciente, e que devemos respeitá-la e cuidar dela para garantir nosso sustento e bem-estar. Assim, as práticas agrícolas são realizadas em harmonia com a natureza, seguindo os ritmos e ciclos estabelecidos pelo tempo sagrado.

Ao contrário do tempo ocidental, marcado pelo relógio, calendário e outras formas de medir e controlar o tempo, os indígenas veem o tempo como algo fluido e intrinsecamente ligado ao presente. O passado é lembrado pelas tradições e histórias transmitidas oralmente, enquanto o futuro é entendido como inerente ao presente, uma dádiva divina a ser vivida em harmonia com a natureza e os ciclos da vida.

No entanto, apesar da rica compreensão e valorização do tempo na cultura indígena, os povos indígenas do Brasil enfrentam desafios significativos em relação à preservação de suas tradições e modos de vida. A colonização, o desmatamento, a exploração mineral e outras formas de exploração têm ameaçado não apenas o ambiente natural, mas também a integridade cultural e espiritual dos povos indígenas.

É importante destacar que, na concepção dos Kaingangues, o ritual é primordial para completar a relação com o cosmo e a espiritualidade. Os ritos estão intrinsecamente atrelados ao tempo, ao saber e ao sagrado, sendo essenciais para a manutenção do equilíbrio e da harmonia entre os seres humanos e o universo.

Outro fato interessante, é como  povo da floresta, os Kaingangues compreendem profundamente que o tempo é o elo de ligação entre o mundo material e o espiritual. Para eles, cada batida do coração da floresta ressoa com uma energia ancestral que transcende a mera passagem dos dias. O tempo, para os Kaingangues, é como uma teia invisível que entrelaça todas as formas de vida, conectando o presente com os espíritos dos antepassados e com as futuras gerações.

Nas sombras das árvores centenárias, os rituais e cerimônias ganham vida como uma celebração da eternidade do espírito e da renovação constante da natureza. Cada dança, cada canto, ecoa através do tempo, invocando a presença dos antigos e abrindo portais para o sagrado. Os Kaingangues entendem que, ao honrar o tempo como um sagrado presente, estão fortalecendo os laços que os unem ao cosmos e aos mistérios mais profundos da existência.

Em cada nascer do sol e em cada pôr do sol, os Kaingangues encontram uma oportunidade de reconectar-se com a essência primordial da vida. O sol, para eles, é mais do que uma fonte de luz e calor; é uma manifestação do divino, uma testemunha silenciosa do eterno ciclo de nascimento, crescimento e renovação. Sob sua luz dourada, os Kaingangues realizam seus rituais de gratidão, nutrindo assim a relação sagrada entre o tempo, o mundo material e o espiritual.

No entanto, essa compreensão holística do tempo enfrenta ameaças crescentes em um mundo dominado pela pressa e pela exploração desenfreada. A invasão das florestas, o desmatamento e a poluição ameaçam não apenas a biodiversidade, mas também a própria alma dos Kaingangues. Diante desses desafios, é urgente reconhecer e valorizar a cosmovisão dos Kaingangues sobre o tempo como uma fonte de sabedoria e equilíbrio.

Ao aprender com os povos da floresta e honrar suas tradições ancestrais, podemos redescobrir o verdadeiro significado do tempo e restaurar o equilíbrio perdido entre o mundo material e o espiritual. Somente assim poderemos nos reconectar com a essência sagrada da vida e garantir um futuro de harmonia e respeito mútuo com todas as formas de vida que compartilham este precioso planeta.


Prof. Daniel Mota


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Prof. Daniel Mota possui graduação em Filosofia pela Universidade Federal do Paraná (1996), especialização em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC/PR) Campus Curitiba e é pós-graduando na UNESPAR - Universidade Estadual do Paraná, Campus de Apucarana FECEA-PR. Com 30 anos de experiência na área da educação, trabalhou por 25 anos no mercado financeiro e é funcionário da rede pública de ensino do Estado do Paraná. Além disso, é proprietário e editor do site Os Argonautas Mídia Alternativa e fundador e proprietário do projeto pela democratização da leitura, Sebo Apucarana.

 
 
 

6 comentários


chenyismart
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